EXPOSIÇÃO DE 06 DE AGOSTO A 15 DE OUTUBRO - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO
A produção que mostramos agora é recente, mas fruto de um ano de pesquisas alternadas com exposições importantes em instituições e galerias de arte parceiras.
Vê-lo trabalhar é um prazer! Sua técnica têmpera é um primor!
Vilma Eid
Esta é a segunda individual do André Ricardo na Galeria Estação. Ela acontece no ano de nosso vigésimo aniversário.Desde sua primeira exposição, em 2021 só temos vivido com ele muitas alegrias. André é pessoa séria, comprometida com o trabalho, com a família e com os amigos. Seu crescimento artístico é notório e pode ser acompanhado pelas ótimas exposições individuais e coletivas das quais tem sido convidado a participar no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. A produção que mostramos agora é recente, mas fruto de um ano de pesquisas alternadas com exposições importantes em instituições e galerias de arte parceiras. Vê-lo trabalhar é um prazer! Sua técnica têmpera é um primor!Para o texto de apresentação convidamos o Igor Simões, curador que admiramos muito, pessoa seriamente comprometida com a arte e com os artistas. André, querido, que sua trajetória continue sendo de conquistas, de felicidade e muito sucesso!
VILMA EID
IGOR SIMÕES
LUZCAIADA
Começo este texto com uma canção que de alguma maneira morava em um canto da minha memória e que voltou depois de uma conversa com André: “Mandei caiá meu sobrado / Mandei mandei mandei / Mandei caiá de amarelo / Caiei caiei caiei! / Amarelo que lembra dourado / Dourado que é meu berimbau / Dourado de cordão de ouro / Besouro Besouro Besouro”. E arrisco ainda um pequeno poema de Adélia Prado que me acompanha há muito tempo e que, não por coincidência, a poeta chama de "Impressionista": “Uma ocasião meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo.” Essas memórias surgidas entre conversas feita de cantos, poesias, fachadas caiadas, luzes e têmperas, foram também o caminho para que chegássemos (ele chegou) ao título desta exposição: LuzCaiada. Caiar como fazem os moradores de interior ou de subúrbio quando revestem com outro tipo de cal aquelas fachadas de casas que fazem das ruas uma experiência particular da cor. Uma luz que surge do cal. Uma Luzcaiada. Acompanhando nos últimos anos o trabalho de André Ricardo, esse jovem artista paulista, cujas raízes tocam lá numa cidade do interior de Pernambuco, sempre me captou a maneira como em sua produção há como protagonista um profundo labor e o compromisso com uma linguagem que não aceita concessões: o ofício da pintura. Ser pintor é muito além de produzir imagens. Para ser pintura é preciso entrega a um processo contínuo que é feito de não apenas ver, mas escutar o que a própria pintura exige. Não é apenas fazer uma pintura, é estar com ela e com as interrogações que os próprios suporte e pigmento exigem. Um jogo feito de perdas e ganhos. Um lugar onde o erro é também caminho. Nisso, André é incomparável. André esgota os sentidos dos cânones por levá-los ao seu limite. Como ele mesmo me conta: “Martelar as paredes dos conceitos da pintura para encontrar a sua própria”. Eis que então, do outro lado dessa parede, começa a surgir a luz que nos instiga aqui. Há ainda a liberação produzida por artistas como André: a ideia de que a um artista negro caberia o compromisso de tratar apenas dos tais temas negros. Uma dinâmica por si mesma racista e limitadora. Um artista negro produz o que ele quer. Está aberto a esses artistas aquilo que tenho tentado pensar como o direito à forma. Aqui, a raça também é debatida em termos que extrapolam a ideia de uma representação fácil. Em suas pinturas, o limite entre representação e abstração está o tempo inteiro presente. André pinta em um momento em que essas definições não são excludentes. A primeira pintura de que André me fala é uma fachada. Nela, linhas azuis que podem soar como um portão se abrem para uma área em um amarelo que parece se acender com um sol que mora em algum lugar. Não posso fugir de ver uma lua que brota do centro da cabeça dupla de um machado de Xangô. Sei que essas formas estão aninhadas na memória desse artista ímpar. Também sei que, ao dividir essa luz conosco, ele nos convida a habitar um espaço que também é nosso. A melhor arte é assim: individual e coletiva. Particular e geral. Há de se reconhecer a grandeza dos artistas que chegam nesse lugar. Artistas como André Ricardo, que com sua habitual delicadeza nos permite entender que a Luzcaiada de suas pinturas também nos banha. Igor Simões Curador
Caiar como fazem os moradores de interior ou de subúrbio quando revestem com outro tipo de cal aquelas fachadas de casas que fazem das ruas uma experiência particular da cor. Uma luz que surge do cal. Uma Luzcaiada.
Igor Simões, curador
A convite da revista Art Dialogues
ANDRÉ RICARDO encontra VILMA EID
CARTA A RUBEM VALENTIM
por André Ricardo
São Paulo, 15 de abril, 2024 Querido Rubem, Fiquei pensando sobre o que diria pra você nesta carta. Acho que posso começar contando que meu filho caçula leva seu nome, Valentim. Ele tem apenas três anos, mas já sabe que, além de significar “pequeno valente”, seu nome é uma homenagem a um grande artista. Minha primeira filha, que hoje tem seis anos, se chama Dandara. Bom, não preciso dizer que isso também é motivo de grande orgulho pra ela, tanto que adora contar a origem desse nome que tem tanto significado para nós, pois é símbolo da luta pela liberdade do povo negro. Semana que vem parto para Londres, onde faremos uma exposição juntos, eu e você. As crianças já reclamam de minha ausência, mas expliquei o quanto estou feliz em realizar essa mostra em diálogo com um artista que muito admiro. Fazer essa exposição com você é motivo de honra, alegria e, na mesma medida, uma grande responsabilidade a que espero corresponder. Ao começar a escrever estas linhas, tentei recordar a primeira vez que vi uma obra sua, mas essa memória me pareceu meio difusa. Sei que não foi em uma exposição retrospectiva, nem mesmo em sala de aula, seja na escola ou na universidade, o que seria de se esperar dada a grandeza de sua obra. Esse fato, por sua vez, se visto como reflexo do racismo estrutural presente em nossa sociedade, revela o longo caminho que ainda precisamos construir. De todo modo, cometeria uma grande injustiça se não mencionasse que, nas lembranças mais vívidas que tenho, sua obra chega até mim pelas mãos do artista Emanoel Araújo, creio que primeiro na Pinacoteca e, posteriormente, no Museu Afro Brasil, ambos em São Paulo. Essa aproximação foi se aprofundando aos poucos, sendo intensificada nos últimos anos a partir da realização de exposições monográficas, como a mostra “Rubem Valentim – Construções Afro Atlânticas”, realizada no Masp – Museu de Arte de São Paulo, em 2018. Igualmente importantes foram as exposições coletivas em que sua obra foi colocada em diálogo com artistas jovens, evidenciando a importância de sua contribuição em nossa história. Tive a honra, inclusive, de participar de algumas delas. Essa linha do tempo, contudo, não me parece suficiente para explicar o que sinto em relação ao seu trabalho. Tenho a sensação de que suas formas e cores ecoam fundo e falam de um sentido circular do tempo, no qual não cabe uma ordem cronológica. Me atrevo a dizer que, embora não tenha tido a oportunidade de o conhecer pessoalmente em vida, sinto que somos próximos. Você, baiano. Eu, paulistano. Adoraria ter nascido na Bahia, devo confessar. Tive, contudo, a felicidade de nascer numa família de pernambucanos e alagoanos e de ter sangue baiano nas veias. Não quero negar minha personalidade de paulistano, mas sou filho de migrantes nordestinos e também não poderia deixar de mencionar a afeição que tenho pela Bahia, terra de cultura fértil, abundante, cuja população de maioria preta é celeiro de artistas primorosos como você. De todo modo, nossa diferença geográfica não é determinante para o pensamento que estou buscando construir, me interessa mais especular acerca de relações que se dão em um plano subterrâneo, que prescindem das fronteiras objetivas do tempo e do espaço. Sua obra estará sempre viva justamente porque ela é um portal de acesso a esse lugar suspenso, onde posso vislumbrar novos horizontes e contornos acerca daquilo que me constitui enquanto sujeito no mundo. Gosto da ideia de que o exercício da arte é uma forma de fazer o caminho de volta a um lugar primordial. Lembro o quão revelador foi perceber que pintar é como fazer um percurso interno, lançar luz a uma uma pintura que já carrego. A visita a essa herança é uma afirmação do direito à memória, fundamental na construção de nossa identidade. Ver a obra de um outro artista também é um modo de acessar esse lugar. Sua obra, Rubem, não cessa de me provocar nesse sentido, ecoando fundo a cada encontro com ela. Embora não busque imprimir um sentido espiritual em minhas pinturas, pelo menos não diretamente, como posso perceber por meio do simbolismo inerente de suas composições, gosto de pensar que renascemos por meio do trabalho, e nesse processo descobrimos que temos muitos irmãos e irmãs a que ainda não havíamos sido apresentados. Tem uma imagem que gosto de evocar para traduzir essa ideia, o movimento das ondas sobre as pedras. Uma pequena porção de rocha na beira da praia ressurge a cada recuo das ondas, depois torna a submergir, reaparecendo em seguida. Embora sempre a mesma pedra, o vai e vem das águas dá a ela um brilho renovado a cada retorno à superfície. Impossível apreendê-la de forma definitiva, nem por inteiro. O que vemos são fragmentos de um todo que está submerso, fincado tão fundo na terra, que só nos resta imaginar seu oculto. Não é essa nossa tarefa enquanto artistas? Especular esse oculto? Nesse mar, o vai e vem das ondas me ensina que o tempo é infinito e circular. Me lanço nas profundezas dessas águas com a segurança de quem sabe que nunca está sozinho, tendo como guias aqueles que vieram antes. É assim que vejo sua obra chegando até mim, abrindo caminhos, como um farol. Obrigado por tanto.
André Ricardo: Luzcaiada
Curadoria: Igor Simões
Exposição até 15 de outubro
Na Galeria Estação - Rua Ferreira de Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo/SP
Horários de funcionamento da galeria: Segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos
Contato: 11 3813-7253
Diretores
Vilma Eid
Roberto Eid Philipp
Textos
Igor Simões
Vilma Eid
Produção
Lu Mugayar
Rodrigo Casagrande
Diretora Comercial
Giselli Gumiero
Vendas
Amanda Clozel
Matheus dos Reis
Diretora de Marketing
Luciana Baptista Philipp
Desenho Gráfico - Comunicação
Zion Digital Marketing
Fotos
Julia Thompson
Montagem
MIA - Montagem de instalações artísticas
Iluminação e apoio de produção
Marcos Vinícius dos Santos
Kléber José Azevedo
Assessoria de imprensa
Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo
Revisão
Otacílio Nunes
Tradução
Maria Fernanda Mazzuco - Inglês
Agradecimentos
Art Dialogues
Fundadora e Editora Chefe: Anita Goes
Diretor Criativo - Design: Dean Nicastro
Co editora de Conteúdo: Raquel Andrade
Diretor Criativo - Web: Cam McIver
Helena Zilberzstejn
Aline Moreira da Silva Tafner Almeida
Vitória da Conceição Souza Santos
Gilvanete Moreira da Silva
Neuza Maria de Almeida
José Arnaldo de Souza
Wilson Tafner